Feminismo: a militância para além da luta política

Série 'Skam France' (Foto: France TV Slash)

Oi! Meu nome é Parker. Na verdade, não é, mas esse é o nome que eu escolhi usar aqui pelo tempo em que vou escrever essa coluna. O dono do site e eu somos muito amigos e ele confiou em mim para trazer uma outra visão sobre coisas importantes aqui para o site. Eu já o ajudei antes, com detalhes de postagens, mas agora é para valer, estou fazendo algo 100% meu e espero que, de alguma maneira, isso possa ajudar alguém.

Eu faço comunicação social com habilitação em Rádio e TV. Acho que eu sempre quis me comunicar, sempre quis ter algum tipo de suporte para passar as mensagens em que eu acredito. E eu vou tentar dar o meu melhor aqui para falar sobre feminismo, do meu reconhecido lugarzinho de privilégio para quem quiser me ouvir (ler!).

O assunto principal, que é o feminismo, vai se ramificar em cinco postagens, que falarão sobre questões do movimento de forma detalhada. E escolhi ficar sempre “nos bastidores”, no anonimato, porque eu acho que a mensagem e a ideia são mais importantes que eu, como indivíduo, apesar da minha vivência interferir nas minhas palavras. Eu espero que eu consiga, pelo menos, fazer quem está lendo isso refletir. Boa Leitura!


POR QUE É POLÍTICO AFINAL?

O movimento feminista ocorreu, durante sua existência, em “ciclos”, ou “ondas”. A primeira onda feminista aconteceu no período entre o final do século XIX e o século XX, tendo a Revolução Francesa como uma de suas maiores influências. À frente de uma revolução, as mulheres começaram a tomar consciência das desigualdades a que eram submetidas e, pouco a pouco, passaram a questionar os modelos sociais e lutar para diminuir a desigualdade política e de direitos.

Simultaneamente, na Inglaterra, ganhava força o movimento sufragista, formado principalmente por mulheres burguesas que procuravam conquistar e garantir o direito da participação feminina nas eleições, na vida pública. Em suas origens, o movimento é essencialmente político e assim ele se firmou, e assim funciona – de certa forma – até os dias de hoje em que vivemos a terceira onda feminista.

O feminismo é, essencialmente a luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres e, como tal, é político. Político por ser um movimento de resistência e de transformação de ordens institucionalizadas de um sistema historicamente concebido opressor. Algumas mulheres fazem política pelo simples fato de existirem, resistirem, quando há todo um conjunto de fatores que procuram deslegitimar sua cidadania, sua presença por conta de características intrínsecas e imutáveis, como a cor da sua pele, por exemplo.

Quando mulheres se organizam para estudar, protestar ou pensar em soluções estão, de fato, fazendo política. Além disso, existe uma relação direta entre o feminismo e a política institucional, pois várias reivindicações do movimento dependem de mudanças em leis e programas de governo e políticas afirmativas. É um movimento sim de elevação da mulher, uma vez que todo esse setor, que corresponde à metade da população do Brasil simplesmente foi colocado em uma posição de inferioridade e subjugação.

Uma das principais metas é a igualdade da participação das mulheres no cenário político do país, tanto na ocupação de cargos políticos como na tomada de decisões, por isso, a própria participação no ambiente político institucional – dentro dos partidos e dos cargos públicos – é uma das lutas das feministas. No Brasil, segundo índice das eleições de 2018, as mulheres são apenas 9% na Câmara dos Deputados e 12% no Senado Federal, um dos índices mais baixos do mundo, apesar de serem 53% dos eleitores. “As mulheres fazem política o tempo todo para sobreviver. Há um paradoxo, nós fazemos política e nós não temos cargos políticos”, disse, em entrevista, a militante feminista Maria Amélia Teles, fundadora da União de Mulheres da Cidade de São Paulo.


E NO QUE O FEMINISMO É, ALÉM DE POLÍTICO?

Na verdade, o movimento se encaixa em um sentido mais amplo de política, que leva em conta os direitos civis, as relações econômicas e também sociais. Isso tornou-se mais evidente durante a segunda onda do feminismo, que aconteceu no período compreendido entre os anos 60 e 90. Neste período a busca pela igualdade social e igualdade de direitos se intensificou e as mulheres passaram a questionar todas as formas de submissão e desigualdade que enfrentavam.

Começaram a fazer parte das questões debatidas pelo movimento, nessa fase, as decisões sobre liberdade sexual, padrões de beleza, maternidade e direitos de reprodução. Uma das principais discussões nessa época girava em torno da superação das opressões sofridas e do motivo de existirem tantas formas diferentes dessas opressões a que as mulheres eram submetidas.

Também foi na segunda onda que começou a surgir a ideia da coletividade, sororidade, da força da união entre mulheres enquanto movimento capaz de provocar alterações nas fraturas sociais. Ainda nesta época as mulheres negras e lésbicas se juntaram ao movimento feminista, trazendo ainda mais força feminina, novas demandas e novas discussões para o feminismo. O feminismo se ramificou em vários segmentos, cada um com suas reivindicações específicas.

Dentro dessa nova onda do feminismo, as principais reivindicações são:

  1. o fim da desigualdade salarial (na prática) entre homens e mulheres;
  2. as questões de saúde pública ligadas diretamente à condição de mulher: como prevenção de doenças, sexualidade e discussão sobre o direito ao aborto;
  3. a libertação de padrões de beleza impostos pela cultura machista;
  4. o combate aos diferentes tipos de assédio, como o moral e o sexual e a cultura do estupro, o fim da violência contra a mulher: violências dentro de relacionamentos, violência sexual, assédio moral, violência obstétrica, dentre outras;
  5. a discussão do papel social e dos direitos relacionados à maternidade e à amamentação;
  6. o fim dos estereótipos e da restrição aos papéis tradicionais de gênero.

Tudo isso é político, mas ultrapassam a esfera política de forma muito expressiva pois exigem mudanças institucionais na educação e formação dos cidadãos, mudanças que começam da esfera micro, entre os grupos sociais, nos relacionamentos interpessoais, para depois se expandirem para a esfera macro, que são as mudanças na legislação. Caso o processo seja inverso, ou seja, criminalização sem educação, a sociedade estará se dirigindo apenas para um caminho punitivo, sem mudanças efetivas a longo prazo.


O CONTEXTO ATUAL

Do meu local de fala, penso que uma das esferas mais violentas da sociedade machista, são os padrões de beleza. Um padrão significa um lugar de conforto e privilégio que é reproduzido.  Existem corpos que são literalmente considerados inadequados, desajustados pelas opressões estruturais e, por isso, sofrem todo tipo de violência velada, o que causa pressões que podem dialogar diretamente com as com questões individuais. A necessidade de aceitação, aprovação, e outras tantas questões subjetivas, são transformadas em grandes desafios, quando em todo lugar há esses padrões inalcançáveis e irreais a serem preenchidos, e isso é extremamente perigoso para a saúde mental das pessoas. Reproduzir os padrões é reproduzir as opressões mais estruturais e isso é feito o tempo todo.

Por isso, a terceira onda feminista, que é o período iniciado a partir dos anos 90, pode ser definida pela busca de total liberdade de escolha das mulheres em relação às suas vidas, o famoso empoderamento. Empoderamento é liberdade de escolha. É necessidade política e é uma ação de grupo. Mulheres empoderadas não apenas indivíduos, elas são a presença de todo o segmento que se sente representado por elas, que se enxerga nelas, dialogando com a representatividade, que é tão importante.

Importante apontar que os livros e materiais sobre o assunto foram se ampliando e, o que começou como um movimento de mulheres brancas e burguesas, hoje é um local que dá espaço e necessita da vivência de mulheres negras, lésbicas, mulheres de periferia, prostitutas, indígenas, mulheres transexuais.

Nessa fase surgiu o termo interseccionalidade (ou feminismo interseccional), que é usado para se referir às diversas formas de opressão que uma mesma mulher pode sofrer, em função de sua etnia, classe social, comportamento ou orientação sexual, práticas culturais e religiosas, por exemplo. É como se cada uma dessas características adicionasse um nível de opressão e empurrasse a pessoa para descer mais um degrau na escada de privilégios.

Outra contribuição dessa fase do feminismo é o entendimento de que os comportamentos e opressões são resultados de construções sociais. Assim, eles podem e devem ser discutidos e desconstruídos. Para isso, a importância do cruzamento das informações e dos debates que incluíssem a maior quantidade possível de mulheres, com suas condições e demandas específicas. O esclarecimento de grupos, e depois a expansão dessas percepções para a comunidade e para pessoas que ocupam lugares de privilégio.


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Bom, por hoje é isso. Ativei meu “modo séria” para escrever esse texto, e espero que nos próximos eu possa ser mais descontraída e leve, porque essa é a pessoa que eu sou. Mas esse assunto é complexo e dá muito o que falar, então acho que exigia essa abordagem e eu tentei ser o mais sucinta o possível. Espero que você tenha gostado de ler isso e que continue entrando aqui no site, acompanhando todas as postagens regulares e as colunas periódicas. Nossos encontros serão nos dias 15 de junho, agosto, outubro e dezembro. Tem muita coisa legal vindo por ai!!! Beijo, beijo.



Postagem escrita por Parker, colunista desse site, estudante e fanfiqueira. Graduanda em Rádio e TV. Confira todas as postagens dessa coluna clicando aqui.

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